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Gustavo Morita / Revista Educação

Como ler um ranking universitário

Listas são importantes para estudantes escolherem seus cursos ou para análise de políticas públicas; há, porém, críticas feitas por acadêmicos

23/06/2016
Sabine Righetti
tenha em mente
- As metodologias variam muito entre os rankings
- Algumas listas priorizam dados objetivos; outras, reputação
- Ao analisar o resultado, fique atento para saber se a metodologia mudou

Os rankings de universidades têm ganhado cada vez mais espaço na imprensa internacional e na academia, que tem estudado o impacto dessas listagens na tomada de decisão dos alunos, na gestão das próprias universidades e nas políticas públicas em ensino superior. Rankings são, de acordo com a definição da própria academia, classificações de universidades em ordem numérica, a partir de critérios pré-definidos. É importante conhecer esses critérios –os chamados “indicadores”— e como são feitas as listagens. Esse texto trata da origem dessas listagens, suas controvérsias e traz dicas para quem vai escrever um texto com base num ranking universitário.

 

O primeiro ranking nacional de universidades foi feito nos Estados Unidos, em 1983, pelo jornal “U.S.News”. O objetivo era atender estudantes estrangeiros que buscavam informações sobre universidades norte-americanas em um período pré-internet –as boas universidades americanas têm, em média, 20% de alunos de fora. A ideia foi seguida por países como a China, que começou sua primeira experiência com ranking nacional de universidades, o “Wo Shulian”, em 1987, dessa vez com o objetivo de identificar quais eram as universidades de ponta chinesas.

 

"Qualquer introdução de novo indicador torna as listagens incomparáveis de um ano para o outro"

 

O fenômeno ganhou força mais recentemente, quando a própria China começou a fazer um ranking universitário global, o “AWRU” ou “Ranking de Shangai”, em 2003, que compara universidades de todo o mundo (novamente com objetivo de entender a posição das escolas chinesas em comparação com outras universidades “world class” –instituições de ensino superior com pesquisa intensiva e orçamento bilionário). A ideia foi seguida pelo Reino Unido, que lançou em 2004 o ranking de universidades global “THE – Times Higher Education”, com uma proposta metodológica bem diferente da chinesa.

 

Hoje, a literatura científica estima que existam mais de 50 rankings universitários nacionais, que avaliam as instituições de um mesmo país, e cerca de dez rankings universitários globais “significantes”, que se debruçam pelas universidades de todo o mundo. As listagens mais importantes para acadêmicos e para jornalistas são ARWU,  THE e QS –essa última feita por uma consultoria britânica desde 2010, por um grupo dissidente do THE.

 

Há alguns anos, esses três rankings universitários começaram também a fazer classificações mais específicas e regionais, com metodologia diferente dos rankings globais: são os rankings de universidades com menos de 50 anos, os rankings de universidades latino-americanas, universidades dos BRICs. A divulgação dessas listagens ganhou tom profissional e, em geral, o material é enviado com embargo de alguns dias para jornalistas de educação de todo o mundo, normalmente em agosto, setembro ou outubro (as listagens globais). O THE ainda lança, em maio, uma listagem de universidades que se baseia em uma pesquisa de opinião feita com acadêmicos de todo o mundo. Tal pesquisa irá compor, depois, um dos indicadores do seu ranking global, lançado alguns meses mais tarde.    

 

Apesar de muito distintas entre si, as listagens universitárias giram em torno da análise daquilo que envolve a atividade universitária, como inputs e outputs relacionados à pesquisa acadêmica, ao ensino e à inovação tecnológica. O que muda é o peso dado a cada uma dessas atividades e como elas são mensuradas.

 

Importante: são os desenvolvedores dos rankings que, ao elaborarem suas classificações, definem o que é uma universidade “de qualidade” e informam à sociedade quem vai bem e quem vai mal. Tais critérios são muito contestáveis na academia. A maioria dos rankings universitários considera, por exemplo, a quantidade de citações recebidas pelos trabalhos publicados pelos pesquisadores das universidades –o chamado “fator de impacto”. O problema é que escolas fortes em áreas que são pouco citadas, como humanas, perdem pontos nessa avaliação, o que não significa que sejam ruins. Mais: fatores como impacto social da universidade não são medidos nessas listagens.

Veja a seguir algumas dicas que podem ajudá-lo a interpretar os resultados de um ranking de universidades e, claro, a escrever sobre essas listagens.

 

  1.     Procure uma universidade brasileira ou latino-americana na lista

O primeiro passo ao receber um ranking universitário é buscar a posição de escolas brasileiras. USP e Unicamp costumam aparecer em boa parte das listagens globais de universidades. Nas listagens de 2016 do THE, por exemplo, USP está no grupo 201-250 e Unicamp está em 351-400. Há 17 escolas brasileiras nessa lista, sendo que 13 delas estão no grupo 601-800 (ou seja, no final da lista). É interessante verificar quais universidades estão no grupo das brasileiras, de quais países, e analisar a posição de escolas “comparáveis” com as brasileiras, como as latino-americanas, universidades jovens ou escolas dos BRICs.

 

  1.       Verifique se houve mudanças entre as top10

           As melhores universidades do mundo são dos EUA e do Reino Unido e, em alguns casos, as top10 alternam de posição entre si a cada ano. De acordo com o THE 2016, por exemplo, a melhor escola do mundo é a Caltech (Califórnia, EUA). Harvard (Boston, EUA), que figurou como líder até 2011 no THE está perdendo posição a cada listagem e, na última, figura em 6º lugar no THE 2016 (mas segue em 1º lugar no ARWU 2016). Outro fenômeno interessante é que a última listagem do THE trouxe pela primeira vez uma escola fora do eixo EUA-Reino Unido no top10: é a ETH (Zurique, Suíça). Esse tipo de fenômeno pode render pautas.

 

  1.       Descubra se a metodologia mudou de um ano para o outro

           Antes de escrever sobre quem caiu de um ano para outro ou quem subiu no ranking, é importante ver se a metodologia permanece a mesma. Qualquer introdução de novo indicador ou mudança de valor nos indicadores altera o resultado do ranking e torna as listagens incomparáveis de um ano para o outro. Só é possível escrever sobre melhora ou piora no ranking se a metodologia se manteve. Uma pegadinha nesse quesito é o ranking de escolas com “menos de 50 anos”, feito pelo THE e pelo QS. Essa listagem sofre alterações por motivos óbvios: as universidades passam de 50 anos e saem da lista, enquanto outras escolas entram. Logo, subir de posição pode ser resultado da saída de algumas instituições por “envelhecimento” e não por melhora de qualidade.

 

  1.       Entenda a metodologia e o que está sendo avaliado

           É importante entender os critérios de avaliação de cada ranking e explicá-los ao leitor. Diferentes rankings universitários têm resultados muito diferentes e não devem ser tratados como verdade absoluta. Exemplo: a USP está em 143º lugar no QS 2016 e no grupo 201-250 no THE 2016. É uma diferença importante. No ranking chinês ARWU, por exemplo, são considerados apenas indicadores objetivos, como quantidade de prêmios Nobel e medalhas Fields no total docente ou número de artigos científicos publicados nos periódicos “Science” e “Nature”. Isso significa que universidades hard science terão bom desempenho nessa listagem. Já no THE e no QS, há indicadores “quali-quanti” com base em pesquisas de opinião feitas com empregadores e com docentes de todo o mundo, com o objetivo de avaliar a percepção que se tem dessas escolas, independentemente de seus números. São propostas metodológicas completamente distintas com base em uma ideia bem diferente do que é uma “universidade de qualidade”. Consequentemente, os rankings também serão diferentes.

 

  1.      Entenda os agrupamentos de universidades nos rankings

           A maioria dos rankings agrupa universidades a partir da 100ª posição em blocos de 50, de 100 ou de 200 instituições. Nas listagens do THE 2016, por exemplo, USP está no grupo 201-250 e Unicamp está em 351-400. Dentro de cada bloco, as instituições são dispostas por ordem alfabética. Muitos jornalistas caem no erro de contar a posição da universidade no seu bloco, na expectativa de determinar uma classificação exata. Isso está equivocado. Se a informação é sobre o grupo na qual a universidade está, então é esse dado que deve ser passado ao leitor.

 

*Sabine Righetti é jornalista e pesquisadora da Unicamp na área de avaliação e indicadores de educação. Tem um blog sobre educação na "Folha de S.Paulo" e também organiza, no jornal, o RUF (Ranking Universitário Folha). Contato: sabine.righetti@grupofolha.com.br

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